Em 1995, Norbert Mette, professor de Teologia Prática, na Universidade de Paderborn, e membro da direcção da revista internacional Concilium, casado e pai de três filhos, ao estudar "a família nas declarações doutrinais do magistério da Igreja", e referindo-se, nomeadamente, à Familiaris Consortio de João Paulo II e à sua Carta às famílias de 1994, aceita o diagnóstico papal: «Ninguém contesta que muitas das tendências enumeradas pelo Papa realmente acontecem: difusão de uma atitude de vida consumista-hedonista, associada a uma mentalidade materialista-utilitarista, declínio da capacidade para a vida comunitária e da disposição para a solidariedade, degradação da sexualidade (e, neste contexto, sobretudo da mulher) a objecto de prazer, etc.».
Mas acrescenta: querer deduzir daí uma decadência da família é um sofisma. Se aceitarmos os resultados da sociologia, poderemos verificar, precisamente, a sua notável estabilidade. Por outro lado, a ocorrência de formas novas e alternativas de família não é, de forma alguma, tão abundante como o permitiria imaginar uma opinião amplamente difundida. O que claramente aconteceu foi uma profunda transformação da estrutura e da função da família. Enquanto esta transformação não for percebida – pelo menos em princípio, como o fez o Vaticano II – e enquanto a visão ficar presa a uma imagem familiar tradicionalista, não é de admirar que as declarações oficiais da Igreja sejam rejeitadas como incapazes de enxergar a realidade e, por isso, sem grande utilidade (1).
João Paulo II percorreu o mundo como se estivesse sempre na sua católica Polónia, embora dominada por um regime comunista. As suas múltiplas viagens, a sedução das multidões e, sobretudo, dos jovens, as exortações à "Nova Evangelização", os encontros com personalidades políticas, pareciam ter, como horizonte, uma nova Cristandade que exigia uma palavra decisiva na política internacional e no interior de cada país. Bento XVI vem, pelo contrário, de uma área cultural que protagonizou a divisão religiosa do Ocidente, onde católicos e protestantes são tratados em pé de igualdade. Parece não acreditar muito no alcance das grandes concentrações de massas e prefere, como o mostrou no último Pentecostes, a reunião de movimentos fervorosos que ele pode, facilmente, controlar. Sabe que se situam no âmbito de uma espiritualidade em torno do Papa e aos quais pode exigir uma obediência indiscutida. Enquadraram, aliás, a concentração de Valência com destaque para o chamado "caminho neocatecumenal" fundado, em 1964, pelo espanhol Kiko Argüello e Carmen Hernández.
Laura Ferreira dos Santos,
docente da Universidade do Minho (Braga, Portugal), católica, casada há 24 anos com um agnóstico, sem filhos, ao pretender dar um recado aos bispos portugueses, imaginou uma parábola de desgraças que ultrapassa as nossas fronteiras: «O meu desejo. Gostava muito que um ou vários dos nossos "dons" bispos casasse, tivesse até um casamento impossível que levasse ao divórcio, que o casal se enchesse de filhos com o mau funcionamento do método das temperaturas, que uma filha "saísse" lésbica, um filho gay e outro transexual, que uma filha hetero abortasse e fosse encarcerada e que uma outra se divorciasse e o pai das crianças não pagasse a pensão. Se, no fim disto tudo, o "dom" anterior não tivesse mudado, ou pelo menos flexibilizado, a sua opinião sobre a família, proporia que fosse estudado pelo António Damásio» ( público, 13.07.06).
Se deixarem as mulheres falar,
terão muito que ouvir! | |
(1) Norbert Mette, A Família nas declarações doutrinais do Magistério da Igreja [Católica], in Concilium260 (1995), pp. 95-107. |
Não quero discorrer sobre as certezas.
mistério por mistério, sem pressa.
Quero andar nas curvas dos problemas,
observar o formar das tempestades
e o seu inevitável
afastar-se para dar lugar ao sol.
Quero aprender.
Quero ser sábio para não saber e nunca
estar tão definitivamente completo
que não haja mais nada a receber...
Não quero me entender
com as compulsões.
Quero sorver a vida passo a passo, mistério por mistério, sem pressa.
Quero andar nas curvas dos problemas,
observar o formar das tempestades
e o seu inevitável
afastar-se para dar lugar ao sol.
Quero aprender.
Quero ser sábio para não saber e nunca
estar tão definitivamente completo
que não haja mais nada a receber...
(V. Cavalcanti)
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Por: Moon Kisses
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