A pessoa de Jesus pode ser "invisível" para a arqueologia. "E não só ele como quase toda a primeira e a segunda geração de cristãos. São pessoas periféricas, gente muito simples, de origem rural", afirma André Leonardo Chevitarese, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Romanos e judeus de classe alta construíam palácios e tinham selos (carimbos) pessoais feitos com metal ou pedra preciosos; carpinteiros e pescadores da Galiléia (a terra natal de Jesus, no norte de Israel), por outro lado, podiam passar a vida inteira usando apenas materiais perecíveis. Chevitarese, aliás, é cético até em relação à ideia de um enterro formal para Jesus.
"Em todo o mundo romano, o costume era abandonar o cadáver na cruz, para ser comido por abutres ou cães", lembra o historiador da UFRJ. Ele também diz ser suspeita a figura de José de Arimatéia, judeu rico e simpatizante de Jesus que teria obtido o seu corpo e organizado o sepultamento, segundo os Evangelhos. "Camponeses como os seguidores de Jesus não teriam como se dirigir a Pilatos para exigir o corpo. Assim, os evangelistas têm o problema de explicar o sepultamento de Jesus e usam a figura de Arimatéia, que praticamente cai de pára-quedas na narrativa", diz. Por outro lado, há pelo menos um registo de um crucificado judeu que teve um sepultamento digno - Yehohanan (João), filho de Hagakol, cujo ossuário foi descoberto por arqueólogos israelitas em 1968. O osso do calcanhar de Yehohanan ainda continha o cravo usado para pregá-lo na cruz.
http:// revistagalileu.g lobo.com/ Revista/Galileu/ 0,,EDG84273-7855 -206-2,00-CSI+J ESUS.html
"Em todo o mundo romano, o costume era abandonar o cadáver na cruz, para ser comido por abutres ou cães", lembra o historiador da UFRJ. Ele também diz ser suspeita a figura de José de Arimatéia, judeu rico e simpatizante de Jesus que teria obtido o seu corpo e organizado o sepultamento, segundo os Evangelhos. "Camponeses como os seguidores de Jesus não teriam como se dirigir a Pilatos para exigir o corpo. Assim, os evangelistas têm o problema de explicar o sepultamento de Jesus e usam a figura de Arimatéia, que praticamente cai de pára-quedas na narrativa", diz. Por outro lado, há pelo menos um registo de um crucificado judeu que teve um sepultamento digno - Yehohanan (João), filho de Hagakol, cujo ossuário foi descoberto por arqueólogos israelitas em 1968. O osso do calcanhar de Yehohanan ainda continha o cravo usado para pregá-lo na cruz.
http://
Magalhães Luís
A figura de Jesus pode até ter "atraído" elementos de mitos antigos para a sua história, mas temos uma quantidade razoável de informações historicamente confiáveis, englobando pistas de fontes cristãs, judaicas e pagãs.
Começamos, no Novo Testamento, com as cartas de São Paulo, escritas entre 20 e 30 anos após a crucificação do pregador de Nazaré. Cerca de 40 anos depois da morte de Jesus, surge o Evangelho de Marcos, o mais antigo da Bíblia; antes que o século 1 terminasse, os demais Evangelhos alcançaram a forma que conhecemos hoje. A distância temporal, em todos estes casos, é mais ou menos a mesma que separava o historiador Heródoto da época da guerra entre gregos e persas, que aconteceu entre 490 a.C. e 480 a.C. - e ninguém sai por aí dizendo que Heródoto inventou Leônidas, o rei casca-grossa de Esparta.
Outra fonte crucial é Flávio Josefo, autor de "Antiguidades Judaicas", também do século 1. O texto sofreu interferências de copistas cristãos, mas é possível determinar sua forma original, bastante neutra: Jesus seria um "mestre", responsável por "feitos extraordinários ", crucificado a mando de Pilatos, cujos seguidores ainda existiam, apesar disso. Duas décadas depois, o historiador romano Tácito conta a mesma história básica, precisando que Jesus tinha morrido na época de Pilatos e do imperador Tibério (duas referências que batem com o Novo Testamento). Estes dados mostram duas coisas: a historicidade de Jesus e também a sua relativa desimportância diante das autoridades romanas e judaicas, como um profeta marginal num canto remoto e pobre do Império Romano
A figura de Jesus pode até ter "atraído" elementos de mitos antigos para a sua história, mas temos uma quantidade razoável de informações historicamente confiáveis, englobando pistas de fontes cristãs, judaicas e pagãs.
Começamos, no Novo Testamento, com as cartas de São Paulo, escritas entre 20 e 30 anos após a crucificação do pregador de Nazaré. Cerca de 40 anos depois da morte de Jesus, surge o Evangelho de Marcos, o mais antigo da Bíblia; antes que o século 1 terminasse, os demais Evangelhos alcançaram a forma que conhecemos hoje. A distância temporal, em todos estes casos, é mais ou menos a mesma que separava o historiador Heródoto da época da guerra entre gregos e persas, que aconteceu entre 490 a.C. e 480 a.C. - e ninguém sai por aí dizendo que Heródoto inventou Leônidas, o rei casca-grossa de Esparta.
Outra fonte crucial é Flávio Josefo, autor de "Antiguidades Judaicas", também do século 1. O texto sofreu interferências de copistas cristãos, mas é possível determinar sua forma original, bastante neutra: Jesus seria um "mestre", responsável por "feitos extraordinários
Magalhães Luís
Homem invisível
Fora algum tremendo golpe de sorte, o máximo que a arqueologia pode fazer é iluminar a vida quotidiana no tempo de Jesus (indicando em que tipo de casa ele vivia ou que modelo de taça ele teria usado para beber vinho com os seus discípulos) ou como era a religião judaica naquela época. Este provavelmente é o caso de um misterioso texto do século 1 a.C., pintado numa pedra e analisado por Israel Knohl, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Em julho passado, Knohl apresentou a sua interpretação do texto (o qual não está inteiramente legível e, por isto, tem de ser reconstruído hipoteticamente ): ele mencionaria a morte e ressurreição de um Messias décadas antes do nascimento de Jesus. Ainda que a interpretação esteja correta, é difícil ver como ela mudaria a nossa compreensão sobre as origens do cristianismo. Afinal, um dos grandes argumentos dos seguidores de Jesus é justamente que o seu retorno dos mortos já tinha sido previsto nas profecias judaicas.
Se a invisibilidade arqueológica não ajuda, a imaginação e as preocupações modernas também atrapalham um bocado. No esforço de tornar o Jesus histórico relevante para a nossa época, ou como forma de polemizar com as atuais religiões cristãs, pesquisadores como o historiador irlandês John Dominic Crossan defendem que Cristo não se preocupava com a vida eterna ou o Juízo Final, mas pregava uma ética totalmente centrada no aqui e no agora, influenciada pela cultura grega. Outros enfatizam o seu lado de revolucionário político, ou mesmo o retratam como uma espécie de mago itinerante, cujos milagres não passavam de truques. Na avaliação de Chevitarese, isto equivaleria a esvaziar Jesus. "Não se pode tirá-lo do seu contexto judaico nem eliminar o seu lado apocalíptico e escatológico [o de um profeta que espera o final dos tempos e a consumação da história humana]", diz o historiador da UFRJ. Isto não quer dizer, por outro lado, que a pregação de Jesus fosse completamente isenta de ideias sobre a sociedade e a política.
"A própria escatologia judaica também tem um substrato político", afirma Luiz Felipe Ribeiro, professor da pós-graduação em história do cristianismo antigo da Universidade de Brasília (UnB). Ele cita um exemplo cristão, o Livro do Apocalipse, que pode ser lido tanto como uma previsão do fim do mundo quanto como um ataque contra a opressão romana que afetava os cristãos.
Homem invisível
Fora algum tremendo golpe de sorte, o máximo que a arqueologia pode fazer é iluminar a vida quotidiana no tempo de Jesus (indicando em que tipo de casa ele vivia ou que modelo de taça ele teria usado para beber vinho com os seus discípulos) ou como era a religião judaica naquela época. Este provavelmente é o caso de um misterioso texto do século 1 a.C., pintado numa pedra e analisado por Israel Knohl, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Em julho passado, Knohl apresentou a sua interpretação do texto (o qual não está inteiramente legível e, por isto, tem de ser reconstruído hipoteticamente
Se a invisibilidade arqueológica não ajuda, a imaginação e as preocupações modernas também atrapalham um bocado. No esforço de tornar o Jesus histórico relevante para a nossa época, ou como forma de polemizar com as atuais religiões cristãs, pesquisadores como o historiador irlandês John Dominic Crossan defendem que Cristo não se preocupava com a vida eterna ou o Juízo Final, mas pregava uma ética totalmente centrada no aqui e no agora, influenciada pela cultura grega. Outros enfatizam o seu lado de revolucionário político, ou mesmo o retratam como uma espécie de mago itinerante, cujos milagres não passavam de truques. Na avaliação de Chevitarese, isto equivaleria a esvaziar Jesus. "Não se pode tirá-lo do seu contexto judaico nem eliminar o seu lado apocalíptico e escatológico [o de um profeta que espera o final dos tempos e a consumação da história humana]", diz o historiador da UFRJ. Isto não quer dizer, por outro lado, que a pregação de Jesus fosse completamente isenta de ideias sobre a sociedade e a política.
"A própria escatologia judaica também tem um substrato político", afirma Luiz Felipe Ribeiro, professor da pós-graduação em história do cristianismo antigo da Universidade de Brasília (UnB). Ele cita um exemplo cristão, o Livro do Apocalipse, que pode ser lido tanto como uma previsão do fim do mundo quanto como um ataque contra a opressão romana que afetava os cristãos.
Magalhães Luís
Reinado de Deus
Para John P. Meier, professor da Universidade Notre Dame (EUA) e autor da monumental série de livros "Um Judeu Marginal" (ainda não concluída) sobre o Jesus histórico, o pregador de Nazaré resume e mistura o espiritual, o social e o político na frase-chave do seu anúncio profético: o "Reino de Deus". Esta é a tradução mais comum em português do grego "basilêia tou Theou", cujo sentido provavelmente está mais para "o Reinado de Deus" - a ideia de que Deus estava prestes a intervir dramaticamente no mundo, resgatando o seu povo de Israel, instaurando o seu domínio de justiça e paz e incluindo até os povos pagãos neste Universo transformado.
"Isto explica por que Jesus parece relativamente despreocupado em relação a problemas sociais e políticos. Ele não estava pregando a reforma do mundo; estava pregando o fim do mundo", escreve Meier. No entanto, em vez de se concentrar nos tormentos que aguardariam os pecadores que não se arrependessem, o profeta da Galiléia ressaltava que o Reinado de Deus era um poder misericordioso, aberto a todos. Não é à toa que algumas autoridades judaicas ou o grupo dos fariseus (algo como "separados", em hebraico) ficavam escandalizados com o lado festivo da vida de Jesus e dos seus discípulos. Afinal, eles não hesitavam em comer e beber com os cobradores de impostos, as prostitutas e outros "pecadores notórios" da sociedade israelita, como sinal da proximidade e da inclusão do Reino.
"Proximidade", aliás, talvez não seja a palavra exata: ao mesmo tempo em que Jesus via o Reinado de Deus como uma promessa a se realizar no futuro próximo, também insinuava que esse reino já estava presente no ministério do próprio Cristo, diz Meier. "As curas e os exorcismos realizados por Jesus não seriam, portanto, meros atos de bondade e compaixão: estariam mais para demonstrações dramáticas de que o Reino de Deus já estava chegando a Israel", afirma o pesquisador. Não dá para forçar a mão de Deus, diz Jesus: o Seu Reinado é um ato espontâneo de misericórdia, voltado não para quem o merece, mas para quem mais precisa dele.
Impedidos no baile
Mais importante ainda, Jesus apresenta-se como o mediador para os que querem participar do Reinado de Deus: rejeitar a sua mensagem equivale a rejeitar a ordem divina. E, como registam os Evangelhos, a proclamação é voltada exclusiva ou principalmente a judeus. Não é à toa que ele escolhe os Doze Apóstolos (provavelmente simbolizando as doze tribos de Israel, espalhadas pelo mundo, que Deus deveria reunir no fim dos tempos) e ordena que eles se dirijam apenas às "ovelhas perdidas da casa de Israel". Para Jesus, a imagem deste Reinado de Deus consumado é a de um banquete - e, paradoxalmente, ele chega a afirmar que alguns dos seus compatriotas judeus, os que não o aceitam, poderão ser os barrados no baile, enquanto a gente "do Oriente e do Ocidente" - os goyim (pagãos) - acabam sendo incluídos.
É possível extrair estas linhas gerais da missão de Jesus do material contido no Novo Testamento, mas é bem mais complicado afirmar-se, que durante a sua vida terrena, Jesus considerava a Si mesmo ser D'us encarnado, como defende o dogma cristão, ou mesmo se ele tinha consciência plena de que a sua morte na cruz serviria para redimir a humanidade.
O interessante, afirma Chevitarese, é que os textos do Novo Testamento parecem mostrar a convivência de várias visões sobre como e quando os cristãos consideravam que Jesus teria assumido seu status de Cristo, ou seja, de "ungido" (escolhido) e filho de Deus. "Para Paulo [autor dos textos provavelmente mais antigos, datados por volta do ano 50], Jesus é o Cristo porque ressuscitou. O Evangelho de Marcos traz esse papel já para o batismo de Jesus feito por João Batista. Os Evangelhos de Mateus e Lucas recuam isso para o nascimento dele, enquanto João vê Cristo como preexistente ao próprio mundo."
Como judeu, seria impensável para Jesus colocar-se publicamente como igual a Deus, afirma Luiz Felipe Ribeiro. "Agora, isto não quer dizer que não houvesse uma autocompreensão de Jesus na qual ele se via como mais do que humano, uma autocompreensão messiânica, digamos." Seria esta uma possível explicação para o misterioso título "Filho do Homem", aparentemente empregado por Jesus para designar a si mesmo. Este personagem aparece em vários escritos apocalípticos judaicos, muitos dos quais surgidos pouco antes do nascimento de Cristo.
Reinado de Deus
Para John P. Meier, professor da Universidade Notre Dame (EUA) e autor da monumental série de livros "Um Judeu Marginal" (ainda não concluída) sobre o Jesus histórico, o pregador de Nazaré resume e mistura o espiritual, o social e o político na frase-chave do seu anúncio profético: o "Reino de Deus". Esta é a tradução mais comum em português do grego "basilêia tou Theou", cujo sentido provavelmente está mais para "o Reinado de Deus" - a ideia de que Deus estava prestes a intervir dramaticamente no mundo, resgatando o seu povo de Israel, instaurando o seu domínio de justiça e paz e incluindo até os povos pagãos neste Universo transformado.
"Isto explica por que Jesus parece relativamente despreocupado em relação a problemas sociais e políticos. Ele não estava pregando a reforma do mundo; estava pregando o fim do mundo", escreve Meier. No entanto, em vez de se concentrar nos tormentos que aguardariam os pecadores que não se arrependessem, o profeta da Galiléia ressaltava que o Reinado de Deus era um poder misericordioso,
"Proximidade", aliás, talvez não seja a palavra exata: ao mesmo tempo em que Jesus via o Reinado de Deus como uma promessa a se realizar no futuro próximo, também insinuava que esse reino já estava presente no ministério do próprio Cristo, diz Meier. "As curas e os exorcismos realizados por Jesus não seriam, portanto, meros atos de bondade e compaixão: estariam mais para demonstrações dramáticas de que o Reino de Deus já estava chegando a Israel", afirma o pesquisador. Não dá para forçar a mão de Deus, diz Jesus: o Seu Reinado é um ato espontâneo de misericórdia, voltado não para quem o merece, mas para quem mais precisa dele.
Impedidos no baile
Mais importante ainda, Jesus apresenta-se como o mediador para os que querem participar do Reinado de Deus: rejeitar a sua mensagem equivale a rejeitar a ordem divina. E, como registam os Evangelhos, a proclamação é voltada exclusiva ou principalmente a judeus. Não é à toa que ele escolhe os Doze Apóstolos (provavelmente simbolizando as doze tribos de Israel, espalhadas pelo mundo, que Deus deveria reunir no fim dos tempos) e ordena que eles se dirijam apenas às "ovelhas perdidas da casa de Israel". Para Jesus, a imagem deste Reinado de Deus consumado é a de um banquete - e, paradoxalmente,
É possível extrair estas linhas gerais da missão de Jesus do material contido no Novo Testamento, mas é bem mais complicado afirmar-se, que durante a sua vida terrena, Jesus considerava a Si mesmo ser D'us encarnado, como defende o dogma cristão, ou mesmo se ele tinha consciência plena de que a sua morte na cruz serviria para redimir a humanidade.
O interessante, afirma Chevitarese, é que os textos do Novo Testamento parecem mostrar a convivência de várias visões sobre como e quando os cristãos consideravam que Jesus teria assumido seu status de Cristo, ou seja, de "ungido" (escolhido) e filho de Deus. "Para Paulo [autor dos textos provavelmente mais antigos, datados por volta do ano 50], Jesus é o Cristo porque ressuscitou. O Evangelho de Marcos traz esse papel já para o batismo de Jesus feito por João Batista. Os Evangelhos de Mateus e Lucas recuam isso para o nascimento dele, enquanto João vê Cristo como preexistente ao próprio mundo."
Como judeu, seria impensável para Jesus colocar-se publicamente como igual a Deus, afirma Luiz Felipe Ribeiro. "Agora, isto não quer dizer que não houvesse uma autocompreensão
Magalhães Luís
Constrangimento
Estas incongruências só são conhecidas porque os Evangelhos preservam uma trilha de pistas sobre o lado humano de Jesus. Tais pistas fortalecem o chamado critério do constrangimento . A idéia é que os evangelistas não inventariam passagens capazes de lançar dúvidas sobre o poder ou onisciência de Jesus. O caso clássico é o batismo de Cristo por João Batista no rio Jordão, afirma Emilio Voigt, doutor em Novo Testamento e professor da Escola Superior de Teologia de São Leopoldo (RS). "Se o batismo de João é para o arrependimento [dos pecados], por que Jesus precisaria ser batizado? Como Jesus, o Messias, poderia ser batizado por alguém inferior a ele?", diz o pesquisador. Segundo Voigt, a tradição cristã resolve isto por meio do "testemunho" de João - afirmações do profeta de que ele teria vindo apenas para proclamar a chegada de Jesus e de que, na verdade, não seria digno de batizá-lo. Uma série de outros eventos constrangedores aparece nos Evangelhos: os parentes de Jesus e os moradores de Nazaré o rejeitam como profeta, ele diz que "somente o Pai" conhece a hora da chegada do Reino, teme a aproximação da morte e, pregado na cruz, pergunta por que Deus o teria abandonado.
Homem bruto
Levando tudo isto em consideração, a fé cristã pode sair abalada ao confrontar o Jesus histórico? Os especialistas apostam que este risco é menor do que parece. "A pesquisa histórica ajuda a compreender a atividade de Jesus e a contextualizar a fé. Pode ameaçar alguns dogmas eclesiásticos, mas não a fé propriamente dita", afirma Voigt, que também é pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IELCB).
"Creio que o processo de formação das pessoas de fé cristã deve ajudar a perceber a riqueza que se encontra no processo de interpretar os acontecimentos. Não podemos ler a Bíblia ao pé da letra. Como pessoas de fé, os nossos antepassados vivenciaram processos muito criativos de leitura dos acontecimentos, atribuindo-lhes significados que, à primeira vista, não eram perceptíveis nem imagináveis. A Bíblia toda foi construída assim", pondera o padre Léo Konzen.
"Apesar de ser a personificação do Divino, Jesus era um homem bruto, pobre, tão comum que dependia de muita oração e da ação do Espírito Santo para realizar os feitos. Seria muito fácil se Ele morresse na cruz tendo a certeza de que era eterno. Mas era homem e não tinha uma memória divina", diz René Vasconcelos, autor do blog Papo de Teólogo e membro da denominação evangélica Assembleia de Deus.
Esta, aliás, é uma das pedras fundamentais da fé de quase todas as igrejas cristãs: Jesus é verdadeiro Deus, mas também é verdadeiro homem. A primeira parte da frase ainda não pode ser comprovada ou refutada pela pesquisa histórica, mas a segunda também é capaz de tornar Jesus relevante para crentes - e até para agnósticos ou ateus - durante muito tempo ainda.
VÁ F U N D O
PARA LER
• Um Judeu Marginal, de John P. Meier. Imago
• Quem É Quem na Época de Jesus, de Geza Vermes. Record
• Jesus de Nazaré – Uma Outra História, de André Chevitarese, Monica Selvatici e
Gabriele Cornelli. Annablume
PARA NAVEGAR
*Conteúdo fornecido pelo G1, o portal de notícias da Globo (www.g1.com.br). Veja complemento especial para esta reportagem no site
Constrangimento
Estas incongruências só são conhecidas porque os Evangelhos preservam uma trilha de pistas sobre o lado humano de Jesus. Tais pistas fortalecem o chamado critério do constrangimento
Homem bruto
Levando tudo isto em consideração, a fé cristã pode sair abalada ao confrontar o Jesus histórico? Os especialistas apostam que este risco é menor do que parece. "A pesquisa histórica ajuda a compreender a atividade de Jesus e a contextualizar a fé. Pode ameaçar alguns dogmas eclesiásticos, mas não a fé propriamente dita", afirma Voigt, que também é pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IELCB).
"Creio que o processo de formação das pessoas de fé cristã deve ajudar a perceber a riqueza que se encontra no processo de interpretar os acontecimentos.
"Apesar de ser a personificação do Divino, Jesus era um homem bruto, pobre, tão comum que dependia de muita oração e da ação do Espírito Santo para realizar os feitos. Seria muito fácil se Ele morresse na cruz tendo a certeza de que era eterno. Mas era homem e não tinha uma memória divina", diz René Vasconcelos, autor do blog Papo de Teólogo e membro da denominação evangélica Assembleia de Deus.
Esta, aliás, é uma das pedras fundamentais da fé de quase todas as igrejas cristãs: Jesus é verdadeiro Deus, mas também é verdadeiro homem. A primeira parte da frase ainda não pode ser comprovada ou refutada pela pesquisa histórica, mas a segunda também é capaz de tornar Jesus relevante para crentes - e até para agnósticos ou ateus - durante muito tempo ainda.
VÁ F U N D O
PARA LER
• Um Judeu Marginal, de John P. Meier. Imago
• Quem É Quem na Época de Jesus, de Geza Vermes. Record
• Jesus de Nazaré – Uma Outra História, de André Chevitarese, Monica Selvatici e
Gabriele Cornelli. Annablume
PARA NAVEGAR
*Conteúdo fornecido pelo G1, o portal de notícias da Globo (www.g1.com.br). Veja complemento especial para esta reportagem no site
Magalhães Luís
O homem, o mito
Décadas de investigação revelam detalhes surpreendentes sobre a história de Jesus, como o seu verdadeiro local de nascimento, a sua relação com Maria Madalena e a veracidade dos seus milagres
1>>>Nascimento: Cristo nasceu antes de Cristo. Os próprios Evangelhos indicam uma vinda ao mundo no fim do reinado de Heródes, o Grande, por volta do ano 5 a.C. O nosso calendário está, portanto, alguns anos atrasados, por um erro de cálculo medieval
2>>>Pais: há consenso de que são Maria e José, o carpinteiro (e/ou construtor: a palavra grega comporta os dois sentidos). Jesus teria herdado a profissão do pai
3>>>Terra natal: Lucas e Mateus não se entendem sobre como a família de Cristo teria chegado a Nazaré, na Galiléia (norte de Israel). É mais provável que a história do nascimento em Belém tenha sido criada mais tarde, para associar Jesus às profecias sobre o Messias
4>>>Família: o dogma católico sobre a eterna virgindade de Maria levou teólogos a interpretar os "irmãos" de Jesus citados nos Evangelhos como seus primos, mas é mais provável, pelo sentido do texto grego, que Maria e José tenham mesmo tido outros filhos
5>>>Estado civil: solteiro e sem filhos. Esta é a situação marital mais provável de Jesus, a julgar pelas muitas referências à sua família, mas nenhuma a mulher e filhos. Tampouco há provas confiáveis de que Maria Madalena fosse algo mais que a sua discípula
6>>>Batismo: Jesus certamente foi batizado por João Batista no rio Jordão: os evangelistas jamais criariam uma história embaraçosa para o seu mestre, uma vez que o batismo de João servia para a remissão dos pecados - algo supostamente supérfluo para o Filho de Deus
7>>>Mensagem: o centro da pregação de Jesus era o "Reino de Deus" (para ser mais preciso, o "Reinado de Deus"): a ideia de que D'us estava prestes a iniciar uma nova fase na história do povo de Israel e da humanidade e de que o próprio Jesus era o principal arauto
8>>>Milagres: até fontes não-cristãs falam de Jesus como "responsável por atos extraordinários ", entre os quais a cura de doentes. Para Jesus, tratava-se de mais um sinal da proximidade do Reinado de Deus
9>>>Exorcismos: é difícil separar as curas operadas por Jesus dos exorcismos que praticava. Nem os seus opositores judeus duvidavam destes atos. Para Jesus, a sua vitória contra as forças demoníacas mostrava que D'us estava a agir através dele
10>>>Seguidores : Jesus aparentemente chamava indivíduos específicos para segui-lo, eventualmente exigindo que eles abandonassem o seu emprego, a sua cidade e até a sua família para acompanhá-lo. Doze destes escolhidos formaram um círculo interno de seguidores, provavelmente representando as doze tribos de Israel, que seriam reconstituídas por D'us
11>>>Traição: um dos doze apóstolos, Judas Iscariotes (o significado do sobrenome é nebuloso; podia referir-se a "homem de Keriot", cidade da Judéia), teria entregado Jesus. Os evangelistas provavelmente não inventariam isto: se Jesus fosse onisciente, por que escolheria um apóstolo que iria traí-lo?
12>>>Crucificaç ão: diversas fontes não-cristãs concordam com os Evangelhos. Cristo morreu crucificado a mando de Pôncio Pilatos, que governou a Judéia do ano 26 ao 36. A data mais provável para a execução de Jesus é o ano 30
O homem, o mito
Décadas de investigação revelam detalhes surpreendentes sobre a história de Jesus, como o seu verdadeiro local de nascimento, a sua relação com Maria Madalena e a veracidade dos seus milagres
1>>>Nascimento:
2>>>Pais: há consenso de que são Maria e José, o carpinteiro (e/ou construtor: a palavra grega comporta os dois sentidos). Jesus teria herdado a profissão do pai
3>>>Terra natal: Lucas e Mateus não se entendem sobre como a família de Cristo teria chegado a Nazaré, na Galiléia (norte de Israel). É mais provável que a história do nascimento em Belém tenha sido criada mais tarde, para associar Jesus às profecias sobre o Messias
4>>>Família: o dogma católico sobre a eterna virgindade de Maria levou teólogos a interpretar os "irmãos" de Jesus citados nos Evangelhos como seus primos, mas é mais provável, pelo sentido do texto grego, que Maria e José tenham mesmo tido outros filhos
5>>>Estado civil: solteiro e sem filhos. Esta é a situação marital mais provável de Jesus, a julgar pelas muitas referências à sua família, mas nenhuma a mulher e filhos. Tampouco há provas confiáveis de que Maria Madalena fosse algo mais que a sua discípula
6>>>Batismo: Jesus certamente foi batizado por João Batista no rio Jordão: os evangelistas jamais criariam uma história embaraçosa para o seu mestre, uma vez que o batismo de João servia para a remissão dos pecados - algo supostamente supérfluo para o Filho de Deus
7>>>Mensagem: o centro da pregação de Jesus era o "Reino de Deus" (para ser mais preciso, o "Reinado de Deus"): a ideia de que D'us estava prestes a iniciar uma nova fase na história do povo de Israel e da humanidade e de que o próprio Jesus era o principal arauto
8>>>Milagres: até fontes não-cristãs falam de Jesus como "responsável por atos extraordinários
9>>>Exorcismos:
10>>>Seguidores
11>>>Traição: um dos doze apóstolos, Judas Iscariotes (o significado do sobrenome é nebuloso; podia referir-se a "homem de Keriot", cidade da Judéia), teria entregado Jesus. Os evangelistas provavelmente não inventariam isto: se Jesus fosse onisciente, por que escolheria um apóstolo que iria traí-lo?
12>>>Crucificaç
Magalhães Luís
Apócrifos: muito barulho por nada
Para os especialistas, estes escritos perdem importância quando se constata que eles tiveram como base os Evangelhos canónicos e seguiram o gnosticismo
O menino Jesus usa os seus superpoderes para matar um amiguinho e dar vida a passarinhos de barro; uma parteira anuncia que, após o parto de Cristo, a virgindade de Maria foi milagrosamente restaurada; Judas é um bom sujeito, que só traiu o seu mestre quando o próprio pediu; Maria Madalena e Jesus vivem aos beijos, e a ex-endemoninhad a é a discípula favorita do Messias. Bem-vindo ao maravilhoso mundo dos Evangelhos apócrifos, textos sobre a vida de Jesus que não foram incluídos no cânon, o conjunto de livros oficialmente aprovados pelo cristianismo.
Há pesquisadores que vasculham estes livros, muitos dos quais em estado fragmentário, em busca de informações valiosas que não teriam sido preservadas (ou teriam sido deliberadamente varridas para debaixo do tapete) pelos evangelistas oficiais. O esforço vale a pena? O mais provável é que não. A opinião é de John P. Meier, autor da aclamada série de livros "Um Judeu Marginal". O argumento de Meier é simples: é praticamente impossível demonstrar que os evangelhos apócrifos mais populares entre os historiadores, como o de Tomás e o de Pedro, não tenham, na verdade, usado como base os Evagelhos canónicos, os bons e velhos Mateus, Marcos, Lucas e João.
Estruturas literárias básicas, como a ordem dos ditos de Jesus, parecem seguir de perto os textos canónicos. Além disso, a datação dos apócrifos aponta para uma composição décadas ou até séculos depois dos Evangelhos oficiais. E há alguns detalhes teológicos suspeitos nas narrativas apócrifas: muitos deles seguem o chamado gnosticismo, uma vertente esotérica do cristianismo primitivo que considerava o mundo material uma esfera corrompida e naturalmente ruim da existência e pregava o acesso a um conhecimento secreto para se libertar dele. A importância do apóstolo Tomé ou de Maria Madalena nos textos gnósticos provavelmente não tem a ver com o papel histórico destes personagens, mas com o uso deles como contraponto aos sucessores de apóstolos como Pedro e Paulo, principais líderes das comunidades cristãs após a morte de Jesus.
Apócrifos: muito barulho por nada
Para os especialistas, estes escritos perdem importância quando se constata que eles tiveram como base os Evangelhos canónicos e seguiram o gnosticismo
O menino Jesus usa os seus superpoderes para matar um amiguinho e dar vida a passarinhos de barro; uma parteira anuncia que, após o parto de Cristo, a virgindade de Maria foi milagrosamente restaurada; Judas é um bom sujeito, que só traiu o seu mestre quando o próprio pediu; Maria Madalena e Jesus vivem aos beijos, e a ex-endemoninhad
Há pesquisadores que vasculham estes livros, muitos dos quais em estado fragmentário, em busca de informações valiosas que não teriam sido preservadas (ou teriam sido deliberadamente
Estruturas literárias básicas, como a ordem dos ditos de Jesus, parecem seguir de perto os textos canónicos. Além disso, a datação dos apócrifos aponta para uma composição décadas ou até séculos depois dos Evangelhos oficiais. E há alguns detalhes teológicos suspeitos nas narrativas apócrifas: muitos deles seguem o chamado gnosticismo, uma vertente esotérica do cristianismo primitivo que considerava o mundo material uma esfera corrompida e naturalmente ruim da existência e pregava o acesso a um conhecimento secreto para se libertar dele. A importância do apóstolo Tomé ou de Maria Madalena nos textos gnósticos provavelmente não tem a ver com o papel histórico destes personagens, mas com o uso deles como contraponto aos sucessores de apóstolos como Pedro e Paulo, principais líderes das comunidades cristãs após a morte de Jesus.
Alegam os cristãos que na caverna 7Q existem vestígios de partes do Novo Testamento, pois bem, aqui estão os Papiros da Caverna 7Q. Onde estão os fragmentos do Novo Tesamento alegados?
Rodrigo Mourão gosta disto.
Rodrigo Mourão
Também não achei ABSOLUTAMENTE nada de texto cristão NENHUM. Cadê pessoal?
Também não achei ABSOLUTAMENTE nada de texto cristão NENHUM. Cadê pessoal?
Magalhães Luís
Em 1945, nas cavernas de Nag Hammadi, no Egito, encontrou-se uma biblioteca cristã do século IV, em língua copta, com vários Evangelhos Apócrifos, aqueles não incluídos no Novo Testamento. Dois anos mais tarde, nas cavernas de Qumran, em Israel, foram achados os Manuscritos do Mar Morto, a biblioteca de um convento da seita judaica dos essénios, com textos de 152 a.C. a 68 d.C., cuja decifração até hoje não foi concluída.
Os Manuscritos do Mar Morto também ignoram Jesus, mas revelam a cultura sobre a qual o cristianismo se erigiu. Agora, em janeiro de 1996, mais quatro cavernas funerárias, dos séculos II e I a.C, foram descobertas, em Qumran, sem documentos. Mas quem sabe não surgirão outras?
Uma das maiores autoridades na história do cristianismo, o padre filólogo Emile Puech, da Escola Bíblica Arqueológica Francesa de Jerusalém, encarregada de decifrar os Manuscritos, admitiu à SUPER o seu pessimismo: “O nosso conhecimento sobre Jesus provavelmente não vai mudar. Mas poderão surgir novas indicações filológicas, linguísticas e históricas importantes sobre a Palestina e a jovem comunidade cristã do século I. Isto, sim, ajudará a conhecer melhor o Jesus real”.
Não é estranho que toda a documentação cristã existente nunca ocorra antes de 325 d.C.?
Não existe um único manuscrito que cite a Jesus ou de origem cristã nas cavernas de Qumran, simplesmente tais documentos não existem, é um fato a se pensar.
Existem duas citações sobre Jesus numa obra de Flávio Josefo, nas "Antiguidades Judaicas". Há uma passagem curta (livro XX), cujo foco está na figura do Sumo Sacerdote Hananias, que convoca o Sinédrio para condenar um inimigo. O texto diz:
"Sendo portanto este tipo de pessoa [isto é, um saduceu desalmado], Hananias, pensando ter uma oportunidade favorável, pois que Festo havia morrido e Albino ainda estava a caminho, convocou uma assembléia de juízes e colocou diante dela o irmão de Ieshua, que é cognominado o Messias, de nome Tiago, e alguns outros. Acusou-os de terem transgredido a Lei e os entregou para serem apedrejados".
Há uma probabilidade enorme desta passagem ser autêntica, segundo os especialistas do tema. Ela é encontrada, sem nenhuma variação importante, na principal tradição do manuscrito grego de "Antiguidades Judaicas". Além disto, a menção de Ieshua, e mesmo de Tiago, é acessória ao tema de Josefo, que visava falar apenas de uma execução ilegal que provocou a deposição posterior de Hananias.
A forma com a qual é identificado Tiago, sem grande reverência - "irmão de Ieshua chamado o Messias", forma de se referir a Tiago que não está em concordância com a utilizada nem no Novo Testamento nem na Patrística, em que se encontram palavras e expressões bem mais respeitosas, tais como "irmão do Senhor", ou "irmão do Salvador" - também aponta para a fonte não cristã do texto. Por outro lado, a descrição de Josefo sobre a morte de Tiago difere da descrição cristã de Hegesipo, tanto quanto a forma como que ela ocorreu, quanto a data. A maior parte da historiografia considera esta passagem como autêntica.
O Testimonium Flavianus é furado, vou postar daqui a pouco um lance só sobre isso.
Não se trata aqui, Eliezer Abensur, do famoso Testimonium Flavianum. A maior parte dos historiadores, principalmente os mais recentes, acredita que a passagem que eu cito a seguir, do Testimonium Flavianum, não é um acrescento "piedoso", i.e., que neste "Testemunho" não é toda ela uma interpolação. Mas seria uma passagem originalmente escrita por o historiador Josefo que sofreu interpolações. O texto é o seguinte:
"Por este tempo apareceu Ieshua, um homem sábio, se na verdade se pode chamá-lo de homem. Pois ele foi o autor de feitos surpreendentes, um mestre de pessoas que recebiam a verdade com prazer. E ele ganhou seguidores entre muitos judeus, como entre muitos de origem grega. Ele era o messias. E quando Pilatos, por causa de uma acusação feita pelos nossos homens mais proeminentes,co ndenou-o à cruz, aqueles que o haviam amado antes não deixaram de amá-lo. Pois ele lhes apareceu no terceiro dia, novamente vivo, exatamente como os profetas divinos haviam falado deste e de incontáveis outros fatos assombrosos sobre ele. E até hoje a tribo dos cristãos, que deve este nome a ele, não desapareceu".
Levando-se em conta as expressões que interrompem o fluxo de pensamento do texto, e ao mesmo tempo retirando as palavras nada freqüentes no texto de Josefo, e presentes nesta passagem, John P. Meier, em "Um judeu marginal", chegou a conclusão de que o texto original de Josefo ficaria próximo do seguinte (note que esta é uma, dentre outras, tentativas de se remontar a passagem original. Não é conclusiva, estou citando-a a título de exemplo):
"Por este tempo apareceu Ieshua, um homem sábio. Pois ele foi o autor de feitos surpreendentes, um mestre de pessoas que recebiam a verdade com prazer. E ele ganhou seguidores entre muitos judeus, como entre muitos de origem grega. E quando Pilatos, por causa de uma acusação feita pelos nossos homens mais proeminentes,co ndenou-o à cruz, aqueles que o haviam amado antes não deixaram de amá-lo. E até hoje a tribo dos cristãos, que deve este nome a ele, não desapareceu".
O Testimonium está presente em todos os manuscritos gregos e em todos da tradução latina, além de em versões variantes em árabe e siríaco. Esta passagem é do livro XVIII, e esclarece a menção mais enxuta da passagem anterior ("Ieshua cognominado o Messias"), que é do Livro XX. Nesta, Josefo, para identificar Tiago, acha o suficiente identificá-lo a Ieshua, sem maiores explicações, o que indica uma menção anterior deste. Outro argumento a respeito da autenticidade da passagem é o de que a sua linguagem, vocabulário e gramática coadunam-se a todo o texto das "Antiguidades Judaicas" e a nada do Novo Testamento. Mesmo alguns vocábulos considerados interpolações aparecem somente uma vez no Novo Testamento, e com mais frequência em Josefo. Há outras características na passagem que indicam a sua autenticidade, tais como as diferenças entre a interpretação cristã da morte de Ieshua, e a afirmação, quase que surpresa, de que a "tribo" dos cristãos ainda não havia desaparecido.
Não, mas que houve uma "mexidinha" é evidente que houve.
H.G. Wells e outros historiadores condenam o Testimonium Flavianum completamente.
Sem dúvida. Mas acima era uma citação de uma passagem curta (livro XX, das "Antiguidades Judaicas"), cujo foco está na figura do Sumo Sacerdote Hananias, que convoca o Sinédrio para condenar um inimigo.
O texto diz:
"Sendo portanto este tipo de pessoa [isto é, um saduceu desalmado], Hananias, pensando ter uma oportunidade favorável, pois que Festo havia morrido e Albino ainda estava a caminho, convocou uma assembléia de juízes e colocou diante dela o irmão de Ieshua, que é cognominado o Messias, de nome Tiago, e alguns outros. Acusou-os de terem transgredido a Lei e os entregou para serem apedrejados".
Há uma probabilidade enorme desta passagem ser autêntica, segundo os especialistas do tema. Ela é encontrada, sem nenhuma variação importante, na principal tradição do manuscrito grego de "Antiguidades Judaicas". Além disto, a menção de Ieshua, e mesmo de Tiago, é acessória ao tema de Josefo, que visava falar apenas de uma execução ilegal que provocou a deposição posterior de Hananias.
A forma com a qual é identificado Tiago, sem grande reverência - "irmão de Ieshua chamado o Messias", forma de se referir a Tiago que não está em concordância com a utilizada nem no Novo Testamento nem na Patrística, em que se encontram palavras e expressões bem mais respeitosas, tais como "irmão do Senhor", ou "irmão do Salvador" - também aponta para a fonte não cristã do texto. Por outro lado, a descrição de Josefo sobre a morte de Tiago difere da descrição cristã de Hegesipo, tanto quanto a forma como que ela ocorreu, quanto a data. A maior parte da historiografia considera esta passagem como autêntica.
O texto Flavianus sofreu interferências de copistas cristãos, mas é possível determinar a sua forma original, bastante neutra: Jesus seria um "mestre", responsável por "feitos extraordinários ", crucificado a mando de Pilatos, cujos seguidores ainda existiam, apesar disso. Duas décadas depois, o historiador romano Tácito conta a mesma história básica, precisando que Jesus tinha morrido na época de Pilatos e do imperador Tibério (duas referências que batem com o Novo Testamento). Estes dados mostram duas coisas: a historicidade de Jesus e também a sua relativa desimportância diante das autoridades romanas e judaicas, como um profeta marginal num canto remoto e pobre do Império Romano
Estes são os factos »» "Sendo portanto este tipo de pessoa [isto é, um saduceu desalmado], Hananias, pensando ter uma oportunidade favorável, pois que Festo havia morrido e Albino ainda estava a caminho, convocou uma assembléia de juízes e colocou diante dela o irmão de Ieshua, que é cognominado o Messias, de nome Jacob, e alguns outros. Acusou-os de terem transgredido a Torah e os entregou para serem apedrejados".
"Obviamente, não existe nenhum texto do Novo (Segundo) Testamento nas descobertas de Qumran, sendo que o primeiro Livro do Novo (Segundo) Testamento foi escrito muito pouco tempo antes da destruição da comunidade de Qumran. Além disto, não há motivo algum para que alguma escrita neotestamentári a tenha sido trazido a Qumran. Por outro lado, há certas referências e pressuposições no Novo Testamento, mormente na pregação de João Batista e Jesus, e nas escritas de Paulo e João, que podem ser colocados contra um pano de fundo reconhecidament e semelhante àquele descrito nos documentos de Qumran. Por exemplo, o pano de fundo gnóstico de certas escritas paulinas que antigamente foi considerado como situação histórica do gnosticismo grego do segundo século d.C. — o que implicaria numa data posterior para a composição da Epístola aos Colossenses — reconhece-se agora como sendo o gnosticismo judaico do primeiro século d.C. ou ainda antes da era cristã. Semelhantemente , o estilo do Quarto Evangelho revela-se como sendo palestiniano e não helenístico. Muita coisa tem sido escrito no assunto do relacionamento entre Jesus e a comunidade de Qumran. Não há evidência nos documentos de Qumran que Jesus tenha sido membro da seita, e nada há no Novo Testamento que exija tal ponto de vista. Bem ao contrário, a maneira de Jesus encarar o mundo, e mais especialmente, Seu próprio povo, é diametricalment e oposta à cosmovisão de Qumran e podemos declarar, sem medo de errar, que Jesus não tenha sido membro daquele grupo em tempo algum. Pode ter sido alguns discípulos que tenham surgido de um passado deste tipo, mais especificamente os discípulos que antes seguiam a João Batista, mas há muita falta de provas neste assunto. A tentativa de comprovar que o Ensinador da Retidão de Qumran tenha servido como padrão da descrição de Jesus que se regista nos Evangelhos não se corrobora pelo estudo dos rolos do Mar Morto. O Ensinador da Retidão era um jovem magnífico com grandes ideais, que morreu cedo demais; não há, no entretanto, nenhuma declaração clara que tenha sido condenado à morte, nem se pode inferir que tenha sido crucificado para então ressurgir dentre os mortos, e que os sectários de Qumran tenham aguardado a sua volta. A diferença entre Jesus e o Ensinador da Retidão destaca-se nitidamente em vários pormenores: o Ensinador da Retidão nunca foi considerado o Filho de Deus ou Deus Encarnado; sua morte não se revestiu de natureza sacrificial; a refeição sacramental (se realmente tenha sido isto mesmo), não era considerada como sendo uma lembrança da sua morte nem como uma promessa da sua volta, e nada tinha que ver com a remissão dos pecados. também é óbvio que no caso de Jesus, todos estes aspectos são claramente declarados, não só urna vez, mas repetidas vezes no Novo Testamento, e, afinal, são doutrinas fundamentais sem as quais não poderia existir a fé cristã." »» Extraído do Livro:
Manual Bíblico - Halley
Manual Bíblico - Halley
Vejamos uma narrativa no TALMUDE:
A mais famosa destas referências rabínica a Jesus está ligada ao nome de Eliezer Ben Hyrcano um dos mais ilustres rabinos entre os Tanaítas.
O rabino Eliezer foi preso acusado de heresia. Depois de haver passado alguns dias na prisão libertaram-no. Porém no caminho da sua casa encontrou-se com o seu amigo o rabino Akiba, e este que estava mais ou menos informado sobre o caso, quis saber mais detalhes sobre o motivo da sua prisão. Eis como o Talmude regista o diálogo:
"Mestre, tu deves ter ouvido uma palavra de Minuth (heresia); esta palavra dá-te prazer, foi por isso que foste preso. Ele (Eliezer) responde: Akiba, tu fizeste-me recordar o que passou. Um dia em que percorria o mercado de Séfoeres [Séforis], encontrei lá um dos discípulos de Ieshua de Nazaré; Tiago de Kefar Sehanya era o seu nome. Ele disse-me: Está escrito na vossa lei: "Não trarás salário de prostituição nem preço de sodomia à casa do ETERNO teu D'us por qualquer voto..." Que fazer dele? Será permitido usá-lo para construir uma latrina para o Sumo Sacerdote? E eu não respondi nada. Disse-me ele: Ieshua de Nazaré ensinou–me isto: o que vem de uma prostituta, volte à prostituta; o que vem de um lugar de imundícies, volte às imundícies. ‘ E esta palavra agradou-me, e foi por causa dela que fui preso como Minuth (citado por Jaques de Bivort, no livro Deus, o Homem e o universo. Livraria Torres Martins. Porto 1957. p 388).
Esta é uma referência histórica de Jesus no Talmude.
Alguns, poderão argumentar em relação aos da seita de Qumran que: "Os ebionitas (ou seita de Qumran) eram um grupo estranho, que nunca veio a fazer parte do ramo principal do judaísmo"
Mas se lermos o Novo (Segundo) Testamento, verificaremos que naquele tempo não existia nenhum "ramo principal do judaísmo", como, ao contrário, existe hoje. Neste sentido, explica o pesquisador de linha protestante Professor Doutor Martin Abegg:
"Tanto no judaísmo moderno quanto no cristianismo, uma 'seita' é, geralmente, um ramo de um tronco religioso maior e é frequentemente vista com excêntrica ou desviada nas suas crenças. Mas os pesquisadores e leigos deveriam recordar que durante todo o período de existência de Qumran, os fariseus e os saduceus eram 'seitas', assim como eram os essénios! Foi apenas a partir do século II d.C. que passou a formar-se um tipo de judaísmo - aquele dos fariseus, dos rabinos - que veio a tornar-se padrão para o povo judeu como um todo.
Tais matérias são de menor importância se comparadas com os manuscritos bíblicos. Primeiro, porque todos os pesquisadores concordam que nenhum dos textos bíblicos (tais como Gênese ou Isaías) foi composto em Qumran; ao contrário, todos eles se originaram antes do período de Qumran. Também é aceito que muitos ou a maioria desses manuscritos foram trazidos de fora para Qumran e, depois, aí reproduzidos. Isto significa que o valor da maioria dos manuscritos bíblicos enganam, não em estabelecer precisamente onde foram escritos ou copiados, mas especificamente quanto ao estudo das formas textuais que encerram" [The Dead Sea Scrolls Bible (=A Bíblia nos Manuscritos do Mar Morto), (C) 1999, pg. XVI]
Encontramos um bom exemplo do uso da Septuaginta (a qual contém os "apócrifos") entre os judeus da Judéia quando lemos os capítulos 6 e 7 dos Atos dos Apóstolos. Aí lemos que Estêvão, cheio da "Ruah", o Espírito Santo (At. 6,10), foi levado ao Sinédrio pela multidão (At. 6,12); Estêvão, então, dirigiu-se aos judeus e contou-lhes como Jacob trouxe os seus 75 descendentes para o Egito:
Atos 7,14-15: "Então José mandou buscar Jacó, seu pai, e toda a sua parentela, em número de setenta e cinco pessoas. Desceu Jacob para o Egito e aí morreu, ele e também os nossos pais".
Mas os manuscritos hebraicos nos dizem que Jacob trouxe 70 descendentes para o Egito (cf. Gên. 46,26-27; o texto hebraico também recorda "70" em Deut. 10,22 e Ex. 1,5). Ora, o Sinédrio judaico e os sacerdotes bem sabiam que Deut. 4,2; 12,32; Sal. 12,6-7 e Prov. 30,6 proíbem que se acrescente ou retire algo da Palavra de D'us. Com efeito, por que o Sinédrio e os sacerdotes não se escandalizaram com a afirmativa feita por Estêvão, de que Jacó trouxera 75 descendentes? Por que não o acusaram de "perverter a Escritura"? Quando lemos esses versículos, notamos que os judeus pareciam nem mesmo piscar. Em ponto algum desta passagem encontramos qualquer sugestão de que a raiva nutrida pelos judeus contra Estêvão havia se originado de uma possível "perversão das Escrituras". Ao contrário, eles mataram Estêvão porque foram por este confrontados com a pessoa do Senhor Jesus - que era realmente o Cristo, e, ao contrário de ser por eles recebido, foi assassinado do mesmo modo que seus predecessores, os profetas (At. 7,51-53)!
A explicação para a discrepância numérica na história de Jacó narrada por Estêvão é simples: ele está citando Gênese (46,26-27) a partir da versão grega da Septuaginta, a qual possui cinco nomes a mais (total de 75 nomes) que o texto massorético hebraico. Os cinco nomes que faltam no texto hebraico foram preservados na Septuaginta, em Gên. 46,20, onde Makir, filho de Manassés, e Makir, filho de Galaad (=Gilead, no hebraico), são apontados, posteriormente, como os dois filhos de Efraim, Taam (=Tahan, no hebraico) e Sutalaam (Shuthelah, no hebraico) e seu filho Edon (Eran, no hebraico).
O Sinédrio certamente teria contestado a afirmação de Estêvão se a Septuaginta não fosse usada ou aceita pelos judeus da Judéia. Com efeito, o fato de a Septuaginta ter sido encontrada entre os manuscritos do Mar Morto bem demonstra que esse era o caso.
Sendo, pois, uma realidade que ambas as versões (a Septuaginta e a hebraica) eram de uso comum na Judéia do primeiro século, o Sinédrio não se surpreendeu ou se escandalizou com a declaração de Estêvão. Afinal, o fato de serem 70 ou 75 o número de descendentes de Jacó não se revelava doutrina importante para os judeus e, ao que parece, também havia muitos judeus no outro lado da questão.
Eis alguns dos papiros e manuscritos primitivos da Septuaginta:
Século II a.C.:
1. 4QLXXDeut [#819] (rolo em pergaminho, Deut. 11)("couro");
2. PRyl 458 [#957 = vh057] (rolo em papiro, Deut. 23-28).
Séculos II/I a.C.
3. 7QLXXEx [#805 = vh038] (rolo em papiro, Ex. 28);
4. 4QLXXLev\a [#801 = vh049] (rolo em pergaminho, Lev. 26) ("couro");
5. 7QLXX EpJer [#804 = vh312] (rolo em papiro, EpJer/Bar6);
6. 7Q4, 7Q8, 7Q12 (rolo em pergaminho, Epístola de Enoque = "1Enoque" 103).
Século I a.C.
7. 4Q127 (rolo em papiro, paráfrase grega de Êxodo?);
8. PFouad266a [#942] (rolo em papiro, Gên.);
9. 4QLXXLev\b [#802 = vh046] (rolo em papiro, Lev. 2-5);
10. PFouad 266b [#848 = vh56] (rolo em papiro, Deut. 17-33);
11. PFouad 266c [#847 = vh56] (fins do séc. I a.C., rolo em papiro, Deut. 10-33).
Entre Eras a.C. e d.C
12. 4QLXXNu [#803 = vh051] (rolo em pergaminho, Núm. 3-4).
Século I d.C.
13. POxy 3522 [#??] (rolo em papiro, Jó grego 42).
Séculos I/II d.C.
14. POxy 4443 [#??] (rolo em papiro, Ester grego, Est. 8-9); 15. PBodl 5 [#2082] (código em pergaminho, Salmo grego, Sal. 48-49).
Autor: Charles The Hammer
Tradução: Carlos Martins Nabeto
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