... Então um pensamento passou pela mente de Yosef ou José o baal (esposo) e guardião de Miriam ou Maria...
Pensamento: “Se o Santíssimo criou o Homem do barro, qual a razão para fazer o seu Filho doutra maneira tão inusitada?! H’Shem tinha mesmo que tomar a minha mulher? Porque não adotou a mesma forma de trazer João Batista ou Yhôhanan à vida?!”*
* RESPOSTA — O objetivo do hagiógrafo é dar Autoridade a Jesus ou Yeshua e diminuir a presença e influência constante de João nas futuras comunidades judeocristãs. Tal como no batismo de Jesus. É um ato de apagar o carisma de João. É Jesus que conta agora. Veja-se os Atos dos Apóstolos. Ele está lá. Com os crentes a terem somente o batismo de João. Isto era um incómodo para a liderança do Magistério e para a maturação da comunidade recém-nascida.
Recordemos o princípio da trama bem urdida. A figura de João Batista (João 1,6-8.19-28). Entalado entre os dois "Testamentos", fechando a porta do "Antigo" (Tanach), abrindo a porta do Novo B’Rit, João, hebraico Yhôhanan [= «YHWH faz graça»], resume o Primeiro ou Antigo "Testamento" (Tanach) e oferece o sumário do Segundo ou Novo "Testamento" ou aliança.
Não é um nome nosso, suportado pelos nossos registos anagráficos, como bem constatam os seus familiares reunidos, aos oito dias, para a festa da circuncisão e da dádiva do Nome: na verdade, ninguém, entre os seus parentes, tinha esse nome (Lucas 1,61), pelo que todos ficaram admirados (Lucas 1,63).
2. Na verdade, este nome veio do Céu, como bem refere Lucas 1,13. E o IV Evangelho di-lo desta maneira estupenda e singela: «Apareceu um homem enviado por D'us, chamado João» (João 1,6). João surge, portanto, neste imenso Evangelho sem qualquer amarra a este mundo: sem pai nem mãe (Zacarias e Isabel não são referidos), sem proveniência terrena, sem introdução, sem luz própria. Só Deus o precede e o sustenta.
3. Como pode, pois, responder à questão que lhe é posta acerca da sua identidade? Desvia de si mesmo todas as atenções: NÃO sou, NÃO sou, NÃO sou! NÃO é a Luz, NÃO é o Messias, NÃO é Elias, NÃO é o Profeta! Dirige todas as atenções para a LUZ, de quem dá testemunho, de quem é reflexo. João nunca responde: «Eu sou…». Mesmo quando responde à pergunta: «Para que possamos dar uma resposta àqueles que nos enviaram, que dizes de ti mesmo?» (João 1,22), João não responde, como aparece vulgarmente nas traduções: «Eu sou a voz do que clama no deserto» (João 1,23), mas literalmente: «Eu? A voz do que clama no deserto», evitando cuidadosamente a locução «Eu sou», que fica reservada para Jesus. E, ainda assim, tomando sempre as devidas precauções, João diz «voz» (phonê), e não «palavra» (lógos). Porque a Palavra (lógos) também é Jesus.
4. Sim, a LUZ (é também a de Chanucá), mas o EU SOU, a PALAVRA é Jesus. Mas Jesus é ainda, no certeiro dizer de João, «QUEM está NO MEIO de vós» (João 1,26). É de Jesus o lugar de honra. Face ao MEIO, no IV Evangelho, João aparece sempre «no outro lado do Jordão» (João 1,28; 3,26; 10,40), fora da Terra Prometida, mas apontando sempre para ELA e para ELE. João é a inteira Escritura apontando Jesus em contraluz, em filigrana pura.
5. A luminosa página de Isaías 61,1-2.10-11 traça a vocação e a missão do anónimo profeta pós-exílico. Vocação e missão a transbordar de alegria e de beleza, que Jesus faz sua quando, na sinagoga de Nazaré, lhe apõe a sua assinatura com aquele: «Hoje cumpriu-se esta Escritura nos vossos ouvidos» (Lucas 4,21). Trata-se de um verdadeiro tornado que muda a história religiosa dos filhos de Deus, contagiando também a inteira criação.
6. Miryam (Maria) também canta essa alegria no magnificat (Lucas 1,46-54), hoje, elevado na liturgia cristã católica a Salmo Responsorial. E nós com ela, de geração em geração (Lucas 1,48). Isabel foi a primeira a proclamar «Feliz», «Bem-aventurada» (makaría) Maria, porque acreditou no cumprimento (teleíôsis) de tudo o que lhe foi revelado (laléô) da parte do Senhor (Lucas 1,45). Maria «cumprimentada» por Deus, por Isabel, por cada um de nós. Sim, porque Maria é a «causa da nossa alegria», como cantam muitos católicos na sua litania. E é-o porque foi olhada com um olhar de graça (epiblépô) por D’us (Lucas 1,48), que fez (“'asoh”*, verbo hebraico da Criação, “Grandes Coisas”, “gëdolot”**, mas também no grego*** “εποιησεν” (poiéō, “tem feito”) trata-se dum verbo da CRIAÇÃO,
וְקָדוֹשׁ
https://context.reverso.net/translation/hebrew-english/%D7%95%D7%A7%D7%93%D7%95%D7%A9
VËQÅDOSH )
o Poderoso (Shaddai) para Ela (a “Shifcha”, “Escrava”) grandes coisas ou ações (Lucas 1,49), e assim vinha fazendo H’Shem (o Altíssimo) desde Avraham Avinu [ou Pai Abraão] (vide Lucas 1,55), e assim continua a fazer ainda hoje e sempre.
* 'asoh עָשֹׂה
** גְדֹלוֹת GËDOLOT
** εποιησεν 👇
http://www.textusreceptusbibles.com/Interlinear/42001049 |
https://adilsoncardoso.com/lucas-grego-capitulo-1/
| https://fr.m.wiktionary.org/wiki/ποιέω
7. E Shaul ou Paulo, na sua Primeira Carta aos Tessalonicenses (5,16-24), também se associa a esta onda de Alegria, com o seu estilo próprio, sobrecarregado de imperativos e de totalidade: «Alegrai-vos sempre! Orai sem cessar! Em tudo dai graças […]. Não apagueis o Espírito. Examinai tudo: guardai o que é bom!».
8. Neste tempo, com tantos judeocristãos doentes, dormentes, parados, anémicos e anestesiados, e outros apagados ou doridos no meio da pandemia que a todos afeta, sobram Hoje incentivos para uma vida nova. No meio do frio próprio do tempo, atira-nos uma imensa chama de Alegria. Tempo novo. Jesus, a Luz, no Meio. E nós por perto, ao redor dessa fogueira. Haverá, por certo, assim esperamos, mais termostatos, e menos termómetros.
São estes os caminhos do Advento e de Chanucá,
Cheiinhos do vento do Espírito,
Que derruba as folhas secas das árvores,
E nos faz ver
Que somos todos como a erva,
E a nossa glória não é mais do que a flor da erva.
Mas seca a erva e murcha a flor,
E nós passamos.
Sim, estamos de passagem.
Mas sentimos no rosto,
Ou talvez no coração,
A tua aragem mansa,
Que nos enche de paz e confiança.
O Advento e a festa de Chanucá são uma escola de esperança
E de oração,
De coragem e de alento.
Estes festival são uma viagem
Até ao nascimento
Do menino de Belém/Nazaré,
Lá,
E dentro de nós também.
Texto feito com a ajuda do meu Professor o Biblista Dom António Couto
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