SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR
Dezembro 24, 2020 AD
1. «Exultemos de alegria no Senhor, porque nasceu na terra o nosso Salvador», é a Antífona do Cântico de Entrada da Divina Liturgia da Santa Missa católica da Meia-Noite, que dá o devido tom de exultação a esta Solenidade, magnífico pórtico para este intenso feixe de Luz, Mistério de Yeshua ou Jesus, fazendo logo ver o Natal ou Nadal à Luz da Páscoa, «a Páscoa do Natal*», assim o diz significativamente a liturgia oriental. A Antífona da Missa da Aurora prossegue a mesma sinfonia, conjugando Isaías 9,1 e Lucas 2,11, e soa assim: «Hoje sobre nós resplandece uma Luz: nasceu o Senhor». A Antífona da Missa do Dia continua a indicar o «para nós» deste Filho e do seu Mistério, trazendo ao de cima outra vez a pauta musical de Isaías: «Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado» (Isaías 9,6).
2. A linha dos Evangelhos deste Dia é de excecional riqueza, e desenvolve-se em três movimentos: o acontecimento, o anúncio e o acolhimento. Começa com Lucas 2,1-14 (Meia-Noite), e continua com Lucas 2,15-20 (Aurora), que nos trazem o quadro histórico-geográfico do nascimento de Jesus (Lucas 2,1-7), o seu anúncio (Lucas 2,8-14) e acolhimento (Lucas 2,15-29). O nascimento de Jesus, na sua nudez, aparece narrado três vezes, nos três movimentos do texto (Lucas 2,7.12.16). Ele é claramente o centro. Aparece logo situado no decurso do recenseamento do mundo romano ordenado por César Augusto, sendo Quirino prefeito romano da Síria (Lucas 2,1-2). O reinado de Augusto estende-se por muitos anos (27 a.C.-14 d.C.), mas Pôncio Sulpício Quirino foi prefeito da Síria apenas no ano 6 d.C., sendo então que liquida os bens de Arquelau, filho de Herodes o Grande, e anexa definitivamente a Judeia ao Império Romano. O leitor menos prevenido dirá logo que há aqui uma imprecisão histórica. Acrescento então que este recenseamento foi iniciado em 7-6 a.C. por Sêncio Saturnino, prefeito da Síria durante os anos 9-6 a.C. É sabido, de resto, que a era cristã atualmente em vigor foi fixada no século VI pelo monge xiita, de origem egípcia, Dionísio o Pequeno, com um pequeno erro de cálculo que resultou no atraso de 6 ou 7 anos em relação ao nascimento de Jesus. Portanto, Jesus terá nascido 6 ou 7 anos antes do início da era cristã fixada pelo monge Dionísio. E aí está então tudo em dia: Jesus nasce quando Sêncio Saturnino dá início ao recenseamento. Dirá outra vez o leitor incauto: se assim foi, por que é que Lucas fala de Quirino, e não de Saturnino? Se repararmos bem, Lucas faz exatamente como nós fazemos hoje. Nas placas que colocamos nos edifícios públicos que inauguramos, constam os nomes das autoridades que os terminam e inauguram, e não daqueles que os iniciam. O mesmo se diga da promulgação de leis e tratados.
3. É ainda no quadro deste recenseamento que José, acompanhado por Maria, sua esposa, sobe a Belém para se recensear. O texto explica bem que esta deslocação se fica a dever ao facto de José ser da descendência de David (Lucas 2,3-4). Alguém poderá perguntar: então por que foi José viver para Nazaré, se ele era natural de Belém, a uns 150 km de distância? Provavelmente dentro do programa político-religioso de tornar mais judaica a Galileia, iniciado por Alexandre Janeu (103-76 a.C.), em que colonos judeus eram incentivados a repovoar e rejudaizar a Galileia.
4. O próximo passo refere que não havia lugar para eles (José e Maria) na sala (Lucas 2,7). Note-se que o texto refere, de forma clara, sala, grego katályma, e não hospedaria, como se lê em muitas e preconceituosas traduções. Na verdade, Lucas sabe bem dizer hospedaria, como faz na passagem do bom samaritano (Lucas 10,34), em que usa o termo grego pandocheîon. Katályma não significa hospedaria. Significa sala. Pode ser a sala do andar superior (Lucas 22,11), mas é, neste caso, a sala de hóspedes que a arqueologia pôs a descoberto no rés-do-chão de muitas das casas da Palestina do tempo de Jesus. Esta sala apresenta forma quadrada ou retangular, com um banco rochoso ao longo das paredes, destinado ao descanso das pessoas. Uma única porta de entrada dava acesso à sala a pessoas e animais. Ao fundo da sala localizava-se outra porta, que dava para um estábulo, para onde as pessoas conduziam naturalmente os animais. É neste estábulo anexo à sala de hóspedes que vai nascer Jesus, e é também aqui que se compreende perfeitamente a presença da manjedoura (Lucas 2,7 e 12).
5. Vem depois a cena maravilhosa da manifestação desta Notícia aos pastores dos campos de Belém. Os pastores são os últimos da sociedade, não são praticantes de nenhuma religião oficial (não têm tempo e condições para isso) e não entram nas contas de ninguém, tal como o pequeno pastor de Belém, David, não entra nas contas já encerradas de seu pai (cf. 1 Samuel 16,10-11), mas entra nas de Deus (cf. 1 Samuel 16,11-12). Assim é também aos pastores de Belém que o mensageiro celeste anuncia a Alegria do nascimento de um Salvador para todo o povo, Hoje nascido em Belém (Lucas 2,8-11).
6. E, deste acontecimento, o mensageiro celeste dá um sinal (sêmeîon) aos pastores e a nós: «encontrareis um recém-nascido envolto em faixas e deposto numa manjedoura» (Lucas 2,12). Entra então subitamente em cena uma multidão do exército celeste (Lucas 2,13) – expressão que só se encontra aqui nos Evangelhos – para entoar aquele celestial e humano Gloria in excelsis Deo e Paz na terra aos homens que Ele ama (Lucas 2,14). Depois desta cena grandiosa e única, aí vão eles, os pastores, aqueles com quem ninguém conta e que não entram em nenhuma lista de convidados, aí vão eles apressadamente (Lucas 2,16), como Maria (Lucas 1,39), verificar (ideîn) os acontecimentos a eles dados a conhecer por Deus (Lucas 2,15), e que, como verdadeiros anunciadores, não podem calar, e devem dar também a conhecer a todos (Lucas 2,17). Note-se esta Paz diferente, que não é obra das armas, como no mundo romano, nem de acordos entre as partes, como no judaísmo palestinense, mas dom de Deus!
7. Cena sublime e suprema ironia. Os senhores do mundo (César Augusto e Quirino) são mencionados, mas saem logo de cena, para dar lugar aos pastores, que assumem o papel de verdadeiros protagonistas. Os senhores do mundo ocupam um único versículo cada um (Lucas 2,1 e 2). Os pastores enchem treze versículos (Lucas 2,8-20). Também lá estão Maria, José e o Menino, mas não dizem uma única palavra. A palavra é toda dos Anjos e dos pastores. Mas Maria, no seu silêncio musical e habitado, é estupendamente retratada a «guardar todas aquelas palavras, compondo-as (symbállousa) no seu coração» (Lucas 2,19).
8. Note-se ainda o sinal dado aos pastores e a nós, leitores: um recém-nascido envolto em faixas, deposto numa manjedoura. É preciso também ver já aqui a Luz da Páscoa, com o corpo de Jesus a ser envolto num lençol e deposto num sepulcro (Lucas 23,53). Mas também a sala (katályma) onde não havia lugar para eles (Lucas 2,7) reclama já a sala para comer a Páscoa (Lucas 22,11). O Evangelho do Dia (João 1,1-18) deixa-nos de joelhos em contemplação: «E o Verbo se fez carne e pôs a sua tenda entre nós, e nós contemplámos (theáomai) a sua glória» (João 1,14). Mas também reclama conversão: «Veio para o que era seu, e os seus não o receberam» (João 1,11).
9. Os passos dos peregrinos e os nossos convergem Hoje para a Basílica da Natividade em Belém. Não obstante os múltiplos trabalhos de reconstrução e conservação ao longo dos séculos, a Basílica que hoje se depara ao peregrino é, nas suas linhas gerais, obra do imperador Justiniano, edificada entre 531 e 565, e é mesmo o único templo, provindo de Justiniano, que resta na Palestina. Escapou mesmo à razia dos Persas do rei Cosroé II, em 614, contra os templos cristãos, devido ao facto de os frescos que adornam a Basílica conterem representações dos Magos, o que muito terá sensibilizado os Persas. Esta não é, porém, a Basílica primitiva. Os trabalhos arqueológicos efetuados pelo P. Bagatti em 1949-1950 mostraram, por debaixo do pavimento da atual Basílica, os traços arquitetónicos de outra grandiosa Basílica, levantada entre 326 e 333, por Santa Helena, mãe do imperador Constantino. Esta primitiva Basílica foi assolada por diversos incêndios e depois grandemente devastada pela revolta dos Samaritanos de Nablus em 529 contra o governo bizantino. Foi sobre as ruínas desta Basílica Constantiniana que o imperador Justiniano fez construir, com traços arquitetónicos diferentes, a Basílica atual.
10. Mas a Basílica Constantiniana também não representa o estádio primitivo do culto cristão em Belém. Este encontra-se certamente na cripta da Basílica atual, guardado num espaço retangular de 12,30 metros de comprimento por 3,50 metros de largura, para onde convergem os passos dos peregrinos. Este espaço corresponde ao estábulo anexo à já mencionada sala de hóspedes. Aí se encontra o Altar da Natividade, debaixo do qual se pode ver uma estrela de prata com a inscrição: Hic de Virgine Mariae Jesus Christus natus est [= «Aqui da Virgem Maria nasceu Jesus Cristo»]. A Basílica da Natividade guarda na sua cripta o mistério do nascimento de Jesus, da pobreza, da humildade, do amor, da paz. Daquele e daquilo que não tem lugar na sala do nosso bem-estar, poder, ódio, ostentação, tirania. Na tua casa e na tua sala há lugar para quem e para quê, meu irmão deste Dia de Natal?
Há dois mil anos Deus sonhou
E foi
Natal em Belém.
Sonha também.
Se o jumento corou
E o boi se ajoelhou,
Não deixes tu de orar também.
A notícia ecoou nos campos de Belém.
Com o celeste recital que ali se deu,
O céu ficou ao léu,
A terra emudeceu de espanto,
E os pastores dançaram tanto, tanto,
Que até os mansos animais entraram nesse canto.
Isaías 1,3 antecipou a cena,
E gravou com o fulgor da sua pena
O manso boi e o pacífico jumento
Comendo as flores de açucena da vara de José sentado ao lume,
E bafejando depois suavemente o Menino de perfume.
Enquanto os meigos animais vão comer à mão do dono,
O meu povo, diz Deus, não me conhece, e perde-se nos buracos de ozono.
Vem, Menino!
E quando vieres para a tua doirada sementeira,
Que logo cresce e se faz messe (João 4,35),
Quando assobiares às boieiras,
Chama também por mim,
Diz bem alto o meu nome,
Vamos os dois para o campo e para a eira,
E enche-me de fome de um amor como o teu,
Pequenino e enorme.
Biblista António Couto | #PáscoadoNatal
OUTRAS VISÕES
Os estudiosos ou escoliastas da Bíblia Sagrada indicam que o ministério de Jesus de Nazaré ou Yeishu ha-Notzri durou três anos e meio.
Como ele realmente deu a Sua vida ou morreu durante a Festividade de Pessach ou Páscoa (no mês judaico de Nisan), só precisamos voltar seis meses para descobrir o seu aniversário.
Seis meses colocam-nos no mês de Tishri, que cai entre setembro e outubro.
11 de setembro, 3BC às 19h
O Evangelista Lucas no capítulo 2 do seu Evangelho informa que a judia Maria veio ao Templo para a sua purificação, 40 dias após o nascimento de Jesus.
• Este dia é o “Yom Kippur”moderno, ou o “Dia da Expiação”, o décimo dia do sétimo mês do calendário hebraico.
Assim, o 40º dia da purificação de Maria havia começado no final do Yom Kippur, no final do 10º dia do 7º mês, porque a purificação pedida pela Tôrah foi feita na primeira oportunidade - no início do 40º dia após o nascimento.
E como o 6º mês normalmente tinha apenas 29 dias, os 39 dias de purificação de Maria deveriam ter começado por volta do pôr do sol no 1º dia do 6º mês, chamado Elul. Em 3 aC, o dia 1º de Elul foi 11 de setembro.
Esta foi a noite do primeiro avistamento da lua nova de Elul, que os magos ou sábios (ou astrólogos) da Babilónia registaram numa tábua de argila.
Esta tábua cuneiforme que os “Magos do Oriente” fizeram naquela hora, pode ser encontrada no Museu Britânico.
Estudiosos dos caracteres cuneiformes identificaram a data nesta tabuinha como equivalente a 11 de setembro do ano 3 AC.
O hagiógrafo ou escritor inspirado Lucas relata que os pastores foram à cidade a contar às pessoas o que haviam visto naquela noite. As pessoas não tinham eletricidade naquela época e dormiam às 19h ou 20h. Portanto, o nascimento ocorreu dentro de alguns minutos, das 18h30 às 19h30 da noite de 11 de setembro de 3 AC.
O historiador Ernest L. Martin consultou as tabelas de fase lunar da NASA e encontrou concordância com a imagem dos céus registada em Apocalipse 12. As tabelas mostravam que o sol e a lua estavam, em relação a Virgem, na época em que Jesus nasceu, apontando para o pôr do sol de 11 de setembro de 3 AC.
Outono de 2BC
Mas nem todos concordam. Alguns historiadores parecem favorecer 2BC como o momento certo. Tertuliano (nascido por volta de 160 DC) afirmou que o César Augusto começou a governar 41 anos antes do nascimento de Jesus e morreu 15 anos depois deste admirável acontecimento sagrado.
Augusto morreu em 19 de agosto de 14 DC, colocando o nascimento de Jesus antes de 2 AC.
Tertuliano também observa que Jesus nasceu 28 anos após a morte de Cleópatra em 30 AC, o que dá a data de 2 AC.
Outro historiador, Irineu, nascido cerca de um século depois de Jesus, também observa que Jesus nasceu no 41º ano do reinado de Augusto. Como Augusto começou o seu reinado no outono de 43 a.C., isto também parece comprovar o nascimento em 2 a.C.
Eusébio (264-340 d.C.), o Pai dos Historiadores da Igreja, atribui-o ao 42º ano do reinado de Augusto e ao 28º ano da sujeição do Egito à morte de António e Cleópatra.
O 42º ano de Augusto começou no outono de 2 a.C. até o outono de 1 a.C.
A subjugação do Egito ao Império Romano ocorreu no outono de 30 a.C. O 28º ano estendeu-se desde o outono de 30 a.C. até ao outono de 2 a.C. A única data que atenderia a estas duas restrições seria o outono de 2 a.C.
Outros estudiosos argumentam que, uma vez que João Batista nasceu na Páscoa durante a primavera e Jesus nasceu 6 meses depois, o outono qualifica-se como o mês.
1º de março de 7 AC, às 1:21 am
Um ministro religioso de nome Rev. Don Jacobs, que foi o autor de “Astrology’s Pew in Church” usou o posicionamento da estrela para localizar o nascimento de Jesus em 1º de março de 7 AC, à 1:21 da manhã em Belém.
Ele escreve que o seu mapa de Natal para este momento contém um aglomerado de seis planetas em Peixes: o Sol, a Lua, Vênus, Júpiter, Saturno e Urano.
(Se juntar tudo isto dá a imagem de um peixe - não admira que o peixe foi usado como um símbolo para Jesus).
Com toda esta energia de Peixes, Jesus era altamente espiritual, compassivo e estava disposto a sacrificar-se pelos outros.
O reverendo Jacobs usou este gráfico para acompanhar os acontecimentos que ocorreram na vida de Jesus e mostrou quais os trânsitos astrológicos ele estava experimentar a cada vez.
* "PREDESTINAÇÃO" EM KARL BARTH E T. F. TORRANCE E A SUA RAIZ EM ATANÁSIO
Mashiach (Cristo), o único Predestinado.
Poderia abordar o tema da cristologia supralapsária de Duns Escoto, na qual o Mashiach ou Cristo tinha precedência sobre todos os decretos divinos. Mas nesta publicação ou postagem da "Páscoa do Natal" apresentarei a visão barthiniana sobre a doutrina da Eleição ou Predestinação que também encontra eco em Thomas F. Torrance.
Karl Barth (1886 - 1968 AD) foi um ministro reformado nascido na Suíça, que tem sido considerado o maior teólogo protestante do século XX, e um dos expoentes fundadores da chamada "neo-ortodoxia" ou "teologia dialética".
A visão barthiniana da predestinação não segue os moldes tradicionais da dupla predestinação incondicional, da predestinação condicional baseada na presciência ou da eleição corporativa. Para Barth a abrangência da dupla predestinação, isto é, da eleição e da reprovação, limitam-se à um único indivíduo - Cristo. Para Barth a predestinação é absolutamente cristológica - Cristo é fundamento e o objeto da predestinação divina.
Robert B. Price sintetiza a visão de Barth assim:
"Segundo Barth, é o próprio Cristo, ou seja, Deus Filho já determinado a encarnar, que é sujeito e objeto de eleição. Como Deus eleitor, sujeito da eleição, o próprio Cristo já constitui a vontade reconciliadora de Deus para com a humanidade e, assim, elege a si mesmo e a toda a humanidade para a salvação. E como o homem eleito, o objeto não apenas da eleição, mas também da reprovação, o próprio Cristo e somente Cristo suportam a rejeição absoluta de Deus da humanidade pecadora. Barth, portanto, reconfigura radicalmente o conceito de dupla predestinação em torno do próprio Cristo, em vez de em torno de dois grupos separados de humanidade." [1]
Na visão de Barth a eleição, conforme entendida por ele, é a soma de todo o Evangelho:
"A doutrina da eleição é a soma do Evangelho porque de todas as palavras que podem ser ditas ou ouvidas é a melhor: que Deus elege o homem; que Deus é também para o homem Aquele que ama em liberdade. É baseado no conhecimento de Jesus Cristo porque Ele é o Deus que elege e o homem eleito em Um. É parte da doutrina de Deus porque originalmente a eleição do homem por Deus é uma predestinação não meramente do homem, mas de Si mesmo. A sua função é dar testemunho básico da graça eterna, livre e imutável como o início de todos os caminhos e obras de Deus."
(CD II / 2)
Na doutrina do teólogo Karl Barth da predestinação, Cristo é o único eleito, nenhum outro é eleito como Ele (Atos 4:12), mas n'Ele (Ef 1: 4) toda a humanidade participa desta eleição (1 Coríntios 15:22). Como Barth não era um universalista (embora muitos assim o acusem e alguns dos seus intérpretes cheguem a esta posição) este silogismo indica que podem haver indivíduos, que embora objetivamente inclusos na eleição de Cristo, que, em última instância, serão condenados no Juízo Final por subjetivamente negarem a sua própria eleição. Uma das marcas da teologia madura de Barth é a sua paradoxalidade.
Para Barth até os ímpios estão inclusos na eleição de Cristo que engloba todo o género humano:
"O homem que está isolado contra Deus é, como tal, rejeitado por Deus. Mas ser este homem só pode ser pela escolha do próprio homem ímpio. O testemunho da comunidade de Deus para cada homem consiste nisto: que esta escolha do ímpio é vazia; que ele pertence eternamente a Jesus Cristo; que a rejeição que ele merece por causa de sua escolha perversa é suportada e cancelada por Jesus Cristo; e que ele foi designado para a vida eterna com Deus com base na justa decisão divina. A promessa de sua eleição determina que, como membro da comunidade, ele mesmo será um portador de seu testemunho para todo o mundo. E a revelação de sua rejeição só pode determiná-lo a acreditar em Jesus Cristo como o Único por quem ela foi suportada e cancelada."
(CD II / 2)
Em Barth a expiação é universal porque a eleição é universal, e resulta em reconciliação universal objetivamente efetivada. Na sua Dogmática da Igreja, Karl Barth relaciona as passagens que falam da vontade divina pela salvação universal (João 3:17; João 6:51; 2 Coríntios 5: 19; Apocalipse 11:15; João 1:29; 1 João 2: 2) com Mateus 22:14 (onde lemos: "porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos") da seguinte forma:
"Uma passagem mais difícil nesta conexão é Mt 22:14. Jesus acaba de contar a parábola da festa de casamento e, especialmente, a história da rejeição do homem que apareceu sem a veste nupcial. Em seguida, é adicionado o ditado independente: "Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos." O verso constitui um ponto crucial interpretativo, uma vez que seu significado mais óbvio, em analogia ao ditado citado no Fédon de Platão (69c) sobre as poucas Bacantes reais entre os muitos portadores de Tirso, parece estar em contradição total com todas as outras passagens e falar sobre uma vocação que não tem eleição como pressuposto. Entre aqueles que acertadamente achavam essa contradição intolerável e, portanto, não podiam aceitar o significado óbvio, R. Seeberg (PRE3 2, 657) considerou que nesta passagem eleito não é um termo teológico, mas simplesmente indica o bom e o nobre de quem infelizmente há muito poucos entre os que são chamados. Mas se o ditado for entendido desta forma, certamente tem um toque estranho na tradição sinótica, e nenhuma distinção entre o bom e o nobre e o resto dos chamados parece ser feita em qualquer outro lugar do Novo Testamento. Na verdade, como poderia a palavra ser reconciliada com o que é dito sobre os chamados e eleitos em 1 Coríntios 1:26? A. Schlatter novamente (Der Evangelist Matthäus, 1929, p. 640) tentou evitar a contradição castigando e rejeitando como grego a exposição que "importaria para a consciência supra-histórica de Deus" a escolha indicada pela palavra eleito, Jesus e o evangelista concentrando sua atenção consistentemente na história e, portanto, aceitando o fato de que a vocação do homem meramente postula um começo que contêm a possibilidade tanto de apostasia quanto de preservação, de modo que a eleição deve ser separada da vocação. Mas se for esse o caso, então o resto do Novo Testamento está em falta, e especialmente Paulo, que inequivocamente fala da eleição como um propósito divino e semelhantes. Podemos realmente isolá-lo disto e ligá-lo à história da apostasia ou preservação do homem? E onde no Novo Testamento, aparte talvez de Judas Iscariotes, temos algum exemplo de chamado como um começo que carrega dentro de si a apostasia do homem? A minha própria opinião é que podemos e devemos concordar com K. L. Schmidt (Kittel II, p. 496) ao considerar o dito como um paradoxo. Portanto, pode ser parafraseado livremente da seguinte forma. Muitos são chamados, mas poucos serão os que, ao seguir o chamado, se mostrarão dignos e agirão de acordo com o fato de que, como chamados de Deus, são os Seus eleitos, predestinados desde toda a eternidade para a vida com Ele e para o Seu serviço. Haverá poucos que, nas palavras de 2 Pedro 1:10, sejam obedientes ao seu chamado e se certifiquem, ou seja, validem e confirmem a sua eleição. Haverá apenas alguns que realmente são o que são chamados, ou seja, eleitos ou cristãos. Neste caso, o significado do redator em Mateus 22 é este. Como tantos, e na verdade a maioria, o homem sem a veste nupcial não foi ou fez o que poderia e deveria ter sido e feito quando convidado pelo rei para a festa e dado como todo o resto o manto com o qual aparecer antes dele. Se este for o significado, o próprio ditado aponta para o fato de que tanto o chamado quanto a eleição subjacente em sua coordenação têm e mantêm o caráter de um ato livre da graça do lado de Deus e uma decisão livre daquele de homem. Em nenhum dos lados, portanto, temos a função automática de uma máquina. Tanto a vocação quanto a eleição são sempre eventos gratuitos. Deve-se notar em conclusão que se este versículo não pode ser oposto a todos os outros em que a coordenação da vocação e eleição é tão clara e inequívoca, ele não pode ser aduzido, como frequentemente tem sido, em refutação da universalidade da eleição que subjaz à futura vocação de todos."
(CD IV / 3)
Como lemos acima, para Karl Barth eleição e vocação são coordenadas. Não há eleição que não resulte em vocação. Deus à ninguém chama que não tenha antes elegido. Eleição resulta em chamado. Eleição, expiação, reconciliação e chamado são universais. Barth expõe como a eleição determina a vocação de todos os homens do seguinte modo:
"É nisso que devemos pensar primeiro e supremamente em relação a este evento. Lembramos Is 41: 4: "Quem operou e fez isso? [a referência é a vocação de Ciro para sua obra de libertação no serviço do povo exilado de Deus.] Aquele que desde o princípio chamou as gerações, Eu, o Senhor, o primeiro e o último; eu sou ele." Dos chamados, isto é, Cristãos, temos assim que dizer antes de tudo com Calvino: "Aqueles que se aproximam de Cristo já eram filhos de Deus em seu coração, visto que nele haviam sido inimigos, mas porque foram preordenados para a vida, eles foram dados a Cristo ”(Dei praed, CR 8, 292). No quadro da sua compreensão da predestinação, divorciada no ponto crucial da cristologia, e da vocação que se segue a isto no tempo, João Calvino não poderia, é claro, falar de uma eleição de todos os homens para uma vocação real, verdadeira e certa, fundamentada nesta eleição. Segundo ele, nem todos os homens são eleitos em Jesus Cristo e, portanto, nem todos são chamados. No entanto, permanece o fato - e este é onosso ponto presente - que Calvino falou claramente da eleição eterna do homem, ou de certos homens, como pressupostos da sua vocação e não vice-versa, e da vocação do homem, ou de certos homens, como o cumprimento histórico da sua eleição. Para ele, vocação e eleição estão indissoluvelmente coordenadas. A eleição antecipa o futuro evento vocacional; a vocação retroage à eleição. De acordo com a norma do Novo Testamento, não podemos falar de nenhum dos dois, exceto nesta coordenação. Cristãos são eleitos e, portanto, chamados. Eles são chamados porque são eleitos. E com base na eleição e na vocação, eles são santos e fiéis. Todas estas descrições se aplicam a eles como cristãos. Isto é pretendido até mesmo em passagens em que apenas um ou dois ou às vezes três são expressamente mencionados. Se a vocação e a eleição não são idênticas, nunca são independentes, mas sempre caminham juntas. Quando em 1 Cor 1: 1 e Rm 1: 1 Paulo se autodenomina um apóstolo chamado, ele dá a sua própria exposição adicionando em Rm 1: 1 separado para o Evangelho de Deus. Ele, portanto, rastreia o seu chamado para ser cristão e apóstolo até a sua eleição. É por isso que ele pode dizer em Gal 1:15 que foi separado do ventre da sua mãe e chamado pela graça de Deus. De acordo com Rm 8:28, os cristãos geralmente são chamados de acordo com o conselho anterior de Deus (de acordo com o Seu propósito). E na famosa catena aurea de Rm 8:30 é dito deles geralmente que Deus chamou aqueles que Ele elegeu, e então que Ele os justificou e glorificou. Em Apocalipse 17:14, eles são descritos numa única frase como chamados, eleitos e fiéis. Desde o início (desde o princípio) Deus os elegeu para a salvação e então os chamou pelo Evangelho, de acordo com 2 Tessalonicenses 2:13. Não é de acordo com as suas obras que Deus o fez, mas de acordo com o Seu propósito e o ponto na mesma direção quando diz que os chamados são "amados por Deus Pai e preservados em Jesus Cristo"."
(CD IV / 3)
Thomas Forsyth Torrance (1913 - 2007), foi um ministro presbiteriano escocês e um dos mais influentes teólogos do seu tempo. T. F. Torrance segue a linha barthiniana, como podemos ver quando ele diz que:
"A eleição significa nada mais e nada menos do que a ação completa do amor eterno de Deus, que “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. É a decisão eterna de Deus que não ficará sem nós entrando no tempo como graça, nos escolhendo e nos apropriando para Si mesmo, e que não nos deixará ir. Eleição é o amor de Deus realizado e inserido na história na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, de modo que, no sentido mais estrito, Jesus Cristo é a eleição de Deus (...) Portanto, não há decreto de predestinação que preceda este ato de graça ou vai pelas costas de Jesus Cristo, pois isso seria dividir o ato de Deus em dois, e separar Cristo de Deus (...) O grande fato do Evangelho, então, é este: (...) Deus escolheu todos os homens, na medida em que Cristo morreu por todos os homens, e porque isso é de uma vez por todas ninguém pode escapar da eleição do Seu amor. Visto que ninguém existe, exceto pela Palavra de Deus, por quem todas as coisas foram feitas e em quem todas as coisas consistem, e na medida em que esta é a Palavra que decretou de uma vez por todas a eleição eterna da graça para abraçar todos os homens, a existência de cada homem, queira ou não, está intrinsecamente ligada a essa eleição - com a Cruz de Jesus Cristo." [2]
T. F. Torrance ainda diz mais:
"Predestinação significa ancorar todos os caminhos e obras de Deus em seu próprio ser e vontade eternos. Enquanto o termo "predestinação" remete tudo de volta ao propósito eterno do amor de Deus pela humanidade, o termo cognato "eleição" se refere mais ao cumprimento desse propósito no espaço e no tempo, pacientemente trabalhado por Deus na história de Israel e trazido para sua consumação em Jesus Cristo. Assim, a predestinação não deve ser entendida em termos de algum decreto atemporal em Deus, mas como a atividade de eleição de Deus providencial e salvadora em ação no que Calvino chamou de "história da redenção". Por trás de tudo deve ser discernida a fidelidade invariável ou constância dinâmica de Deus, pois ao escolher a humanidade para ter comunhão consigo mesmo, o Deus eleito deseja, assim, deixar de lado tudo o que for contrário a este propósito eterno. Em sua fidelidade, Deus nunca diz “sim” e “não” para nós, mas apenas “sim”. Esta é a maneira pela qual Calvino entendeu o dístico “predestinação” e “reprovação”. Se a predestinação deve ser rastreada não apenas para a fé como sua “causa manifesta”, mas para o "sim” da graça de Deus como sua “causa oculta”, então a reprovação deve ser rastreada não apenas para a descrença como sua “causa manifesta”, mas ao “sim” da graça de Deus como sua “causa oculta” também, e não a algum alegado “não” de Deus. Não há duas vontades em Deus, mas apenas a única vontade eterna do amor eletivo de Deus. É pela constância desse amor que todos os que rejeitam a Deus são julgados. O evangelho diz que é somente em Jesus Cristo que a eleição ocorre. Cristo personifica o amor eletivo de Deus em sua própria pessoa divino-humana. É por isso que, para se referir a Calvino novamente, ele insistiu que devemos pensar em Cristo como a “causa” da eleição em todos os quatro sentidos tradicionais de “causa”: o eficiente e o material, o formal e o final. Cristo é ao mesmo tempo o agente e o conteúdo da eleição, seu início e seu fim. Portanto, é apenas em Cristo que podemos discernir a base e o propósito da eleição no ser imutável de Deus, e também como a eleição opera na atividade criadora, providencial e redentora de Deus. Em Cristo, toda a eleição e aliança de amor de Deus são reunidas em uma cabeça e lançadas na história. Antes de Cristo, à parte dele ou sem ele, Deus não quer ou faz nada, pois não há Deus por trás das costas de Jesus Cristo. Esta identidade de eleição eterna e providência divina em Jesus Cristo gerou na tradição reformada sua conjunção bem conhecida de repouso em Deus e obediência ativa a Deus no serviço do reino de Cristo. No entanto, se esse repouso em Deus é referido, como aconteceu com muita frequência na história das igrejas reformadas, a um terreno inercial no ser eterno de Deus, então se abre uma divisão no entendimento das pessoas entre a predestinação e a atividade salvadora de Cristo no espaço e no tempo, por exemplo, na noção de eleição como "antecedente à graça". Isto parece ser a fonte de uma tendência para uma visão nestoriana de Cristo que continua a surgir na teologia calvinista. Isto é muito evidente nas tentativas equivocadas de interpretar o "pré" na "predestinação" de uma forma lógica, causal ou temporal, e então projetá-lo de volta em um decreto absoluto pelas costas de Jesus e, assim, introduzir uma divisão na própria Pessoa de Cristo. É uma das principais contribuições de Karl Barth para a teologia reformada que ele expôs e rejeitou de forma decisiva uma forma de pensamento tão prejudicial." [3]
Agora, quero ressaltar que as raízes deste entendimento particular sobre a predestinação está no grande campeão da ortodoxia Atanásio de Alexandria.
Vejamos o que diz o Patriarca de Alexandria:
"Como, então, ele nos escolheu, antes que viéssemos à existência, mas que, como ele mesmo diz, nele estávamos representados de antemão? E como, de modo algum, antes que os homens fossem criados, ele nos predestinou para a adoção, mas que o próprio Filho foi “antes da fundação do mundo”, assumindo sobre Ele aquela economia que era por causa de nós? Ou como, como o apóstolo continua a dizer, temos "uma herança sendo predestinada", mas que o próprio Senhor foi fundado "antes do mundo", uma vez que ele tinha um propósito, para o nosso bem, para tomar sobre ele pela carne toda aquela herança de julgamento que colocou contra nós, e nós doravante fomos feitos filhos n'Ele? E como a recebemos antes que houvesse o mundo, quando ainda não estávamos no ser, mas depois no tempo, mas que em Cristo estava guardada a graça que nos alcançou? Pelo que também no juízo, quando cada um receber segundo a sua conduta, diz: vinde, benditos de meu Pai, herdai o reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Como, pois, ou em quem, foi preparado antes que fôssemos criados, senão no Senhor, que foi fundado para este fim antes do mundo; Para que nós, edificados sobre Ele, possamos participar, como pedras bem compactadas, da vida e da graça que vem d'Ele? E isso aconteceu, como naturalmente se sugere à mente religiosa, para que, como eu disse, nós, ressuscitando depois de nossa breve morte, possamos ser capazes de uma vida eterna, da qual não tínhamos sido capazes, homens como somos, formados de terra, mas que ‘antes do mundo’ havia sido preparada para nós em Cristo a esperança de vida e salvação. Portanto, por que é que o Verbo, vindo à nossa carne, e n'Ele sendo criado como 'o princípio dos caminhos para as Suas obras', é posto como fundamento, conforme a vontade do Pai estava n'Ee antes do mundo, como já foi dito, e antes que a terra fosse, e antes que os montes fossem estabelecidos, e antes que a terra emergisse? Que, embora a terra e as montanhas e as formas da natureza visível passem na plenitude da idade presente, nós pelo contrário não podemos envelhecer segundo o seu padrão, mas podemos ser capazes de viver depois deles, tendo a vida espiritual e a bênção que antes destas coisas nos foram preparadas na própria palavra, segundo a eleição. Pois assim seremos capazes de uma vida não temporária, mas para sempre permanecermos e vivermos em Cristo; Desde mesmo antes disso a nossa vida tinha sido fundada e preparada em Cristo Jesus. Nem de outra maneira era conveniente que a nossa vida fosse fundada, mas no Senhor que é antes dos séculos, e por meio de quem os séculos foram criados. Para que, estando n'Ele, também nós possamos herdar a vida eterna. Porque Deus é bom. E sendo sempre bom, Ele quis isso, como sabendo que nossa natureza fraca precisava do socorro e salvação que vem d'Ele. E como um arquiteto sábio, que propõe construir uma casa, consulta também sobre a sua reparação, se em algum momento ela se decompor depois da construção, e, como aconselhamento sobre isto, faz a preparação e dá aos operários os materiais para a reparação; E assim os meios da reparação são fornecidos diante da casa; do mesmo modo, antes de nós está a reparação da nossa salvação fundada em Cristo, para que n'Ele possamos até ser criados novos. E a vontade e o propósito foram preparados “antes do mundo”, mas tiveram efeito quando a necessidade o exigiu, e o Salvador veio entre nós. Porque o Senhor mesmo nos colocará no lugar de todas as coisas que estão nos céus, quando nos receber para a vida eterna. Isto, então, é suficiente para provar que a palavra de Deus não é uma criatura, mas que o sentido da passagem é correto. [4]
Vê-se claramente que Barth e Torrance estão a construir sobre o paradigma atanasiano da eleição e não sobre o paradigma agostiniano.
Particularmente, eu acredito como Vern S. Poythress (vide o livro 'Teologia Sinfônica') que há validade na multiplicidade de perspectivas teológicas. Ainda que Barth e Torrance não façam jus à totalidade de nuances e ângulos que o ensino bíblico sobre o tema da predestinação pode ter, eles certamente tem contribuições extremamente relevantes em aspectos que muitos deixaram passar por desapercebidos.
Penso que a maior contribuição deste pensamento seja que a dimensão cristológica da predestinação deve ter primazia sobre as dimensões individuais e corporativas e sobre a especulação quanto aos decretos divinos.
BIBLIOGRAFIA
[1] Price, R.B., 2011. Letters of the Divine Word: The Perfections of God in Karl Barth’s Church Dogmatics. J. Webster, I. A. McFarland, & I. Davidson, eds., London; New York: T&T Clark. p.6.
[2] T.F. Torrance, 1947. ‘Universalism or Election?’ in Scottish Journal of Theology, 2(3), pp.314-315
[3] Thomas F. Torrance, “The Distinctive Character of the Reformed Tradition” (The Donnell Lecture delivered at the University of Dubuque Theological Seminary, October 6, 1988).
[4] Athanasius of Alexandria, 1892. Four Discourses against the Arians. In P. Schaff & H. Wace, eds. St. Athanasius: Select Works and Letters. A Select Library of the Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church, Second Series. New York: Christian Literature Company, pp. 389–390.
Texto de Felipe dos Santos
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